domingo

para a minha avó

Falhei ao não ter escrito sobre si à mais tempo. Falhei por pensar que ia doer ainda mais lembrá-la. Lembro-me de si todos os dias. Lembro-me do seu sorriso, dos seus conselhos, das suas cantigas e da sua boa disposição. Era impossível pedir uma avó melhor! Era impossível criarmos algo mais bonito do que nós os dois juntos criámos! Oh vó, porque é que você partiu? senti que fugia de mim todos os dias naquela sala de hospital! Estive ao seu lado todos os dias, fizesse chuva, fizesse sol eu estava lá para agarrar a sua mão gelada, como sempre esteve desde que me lembro de ser gente - e o quanto eu gostava de aquecer as suas mãos nos dias gelados como o de hoje. E o quanto, naqueles dolorosos últimos dias, um aperto significou para todos nós. Foi tão rápido e tão triste. 
Você não merecia.
Sei o quanto a sua vida foi cheia de sofrimentos. O quanto a sua vida foi dedicada a todos aqueles que naquele último dia choravam à volta da sua cama. Oh vó, porquê? Não tive tempo de lhe contar como era a faculdade! Não tive tempo de tirar a carta para a levar comigo aos passeios que tanto planeávamos! Não tive tempo... Não tive sorte! 
Tudo se baseia em sorte, e eu não tive sorte de satisfazer estes meus desejos vãos. Sinto-a tão viva. Tão sorridente ao meu lado. Tão sábia. Minha avó amada, parte de mim que se despegou naquele horrível dia. Todos os dias é mais um dia sem si e infelizmente todos os dias sou obrigado a seguir em frente, a lembrar-me que a minha Kininha Portista fica agora no meu coração e não naquela casa cheia de recordações.
Foram dezoito anos perto de si. Dezoito anos a aprender consigo que é no simples que está tudo aquilo que é belo, você era simples e o ser humano mais belo que já conheci, as pinturas eram só “impiriquitices”, as novelas tinham todas as “tratantes” e todos os outros termos que só você sabia dizer com aquela sua magia.
É duro perder a sua voz, a sua presença. É duro querer estar consigo e  querer ouvir novamente a sua voz.

Espero encontrá-la, mais tarde, para lhe contar tudo aquilo que aconteceu, e foi tanto desde que partiu. Queria tanto voltar a vê-la. Queria que todos os dias se orgulhasse do menino pequenino que tanto amou. Eu ainda a amo e amarei, para sempre. Avó, minha santa e amada avó, desculpe a demora... Sinto a sua falta, sempre, a todos os dias, a todas as horas. Guie-me! Acalme-me quando não estiver calmo! Seja o meu anjo, a minha orientação... Espero que eu continue a orgulhá-la, como sempre fazia o favor de mostrar.
Até um dia avó. Até um dia Kininha, minha eterna Kininha.

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